quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A Luz da Fotografia

Quando falamos em luz parece algo intangível, abstrato, mas para captação de imagens é ela que traduz as formas e cores em imagens fantásticas, sem igual, que trazem a arte para dentro da foto e traduzem sentimentos num instante através de um simples click.

O momento exato que revela-se esplêndida pode durar segundos, dias, anos, até milênios, mas somente uma pessoa em milhões, é capaz de trazer para a imagem algo único. Acredito que temos mais máquinas fotográficas que pessoas no mundo e possivelmente a todo segundo milhares de fotos são tiradas, mas em raras combinações conseguimos encontrar os elementos todos juntos. 

A lente, o fotógrafo, o ângulo, o local e para não esquecer o principal a "LUZ", que traz todos para um instante, um click, uma fantástica combinação luminescente gerando a imagem. Não! esta não é o simples espelho do que esta à frente. Teríamos infinitas combinações alterando apenas um pouco um dos elementos, tais como: o ângulo, o momento, o tipo de lente, o sentimento do fotógrafo em dar naquele exato milésimo um toque, um click.

Nem podemos dizer mais que trata-se do "CLICK", pois hoje já temos ZAPS!, TCHECK! TZIP! e sei lá quantos mais ruídos para informar que algo foi captado, as vezes ainda vai para o processamento, para após um tempo e geralmente sozinho o autor ir conferir o resultado. Muitas vezes fica desapontado, pois o que vira era mais belo que a imagem captada, e aí é que está o raro, em poucas ocasiões o fotógrafo percebe que uma imagem tem mais que a cena vislumbrada, mais que o registro do momento, tem uma presença única que pode ser sentida por ele e apreciada pelos demais.

Como entender imagens sem vê-las? Parece algo atroz, então vamos as belas, para mim as mais belas, imagens que já vi:
O barco tranquilo e colorido, o vento agitando o mar dourado, as nuvens caudalosas formando imagens...

Mas cadê a luz? Quem tampou o Sol? Vou esperar o momento certo, e se passam minutos e mais minutos e nada.

Vou procurar um ângulo melhor, quem sabe consigo melhorar o enquadramento, talvez por lá tenha mais luz.

Isto sim é perfeito? Tem um barco que chegou enquanto esperava a luz, mas tudo bem, depois recorto e tiro ele fora, mas cadê a LUZ! Tentei um giro ao redor e não adiantava, ora perdia a profundidade, ora perdia as montanhas, ora enquadrava a civilização perdendo assim o encanto do barco solitário. Cansei de tanto esperar, mas naquele dia não tinha luz no único lugar que eu queria, sob o barco para mostrar a beleza de suas cores, então fiquei sem aquela foto, ficou, passou, não era o momento de captar toda a beleza que havia ali.

Mais dias passaram-se, e eu na caça de um barco simples, colorido, ancorado numa bela paisagem para uma foto de recordação. Ufa! Finalmente encontrei outra cena, era mesmo belo, tinha um ângulo mais próximo ao barco, tudo prometia. Tirei foto da estrada, subi na ponte próxima, pedi licença e entrei no quintal de uma casa, mas o resultado era sempre luz com inclinação errada. Resolvi radicalizar e entrar com a câmera na água, torcendo para não escorregar e perder mais uma, mas tudo que consegui, foi uma boa ideia do que poderia ter sido uma boa foto, decepcionado resolvi registrar aquela assombrosa luz, que insistia em não permitir uma bela imagem.

Outro dia nova esperança, fui a praia da Solidão, lugar mais deserto e acesso difícil, logo teria uma paisagem de suspirar, pensei eu. O lugar era encantador, por sorte quase deserto, então procurei os barcos e nada, resolvi trocar o tema, procurei uma bela encosta marinha, depois de atravessar várias vezes a longa praia encontrei um belo enquadramento, fazia sol, mas não na face que escolhi fotografar. Logo vamos para o segredo da boa fotografia, espera, espera, volta em algumas horas e então, o céu ficou nebuloso cada vez mais escuro, as nuvens fecharam-se e novamente fiquei sem luz. Para não deixar em pretas nuvens, resolvi registrar.

Ás vezes temos luz e inusitada paisagem, mas falta paciência para esperar o momento certo. Estamos no lugar certo na hora errada, no dia errado, na estação errada, aí a espera briga com a teimosia, ambas sujeitas de difícil trato, o mais lógico é agir como a água e contornar, registrar e alegrar-se com o momento como ele está, sem interferir, apenas deixar-se levar.
O vazio está na mente do observador, quando ele deseja muito, acaba prostrado e com pouco. Quando seu interior é grandioso e cheio de elementos de curiosidade tudo a volta é magnífico, e sua mente consegue enxergar maravilhas em todo canto, até a falta de algo torna-se um prazer, pois vive algo diferente. 

Quando falta o Sol radiante, pode-se obter outra luz, mais cálida e suave, sem a intensidade mas com a beleza sóbria dos sobretons. Um pequeno ponto com cor já serve de referência, nem sempre o belo está em destaque, muitas vezes levamos muitos anos para perceber onde estão as coisas mais preciosas da vida. Com as pessoas ou com os objetos o importante é ser autêntico, único, ter algo a complementar no mundo, se a luz não lhe traz destaque é porque sua beleza não foi feita para ser vista com luz radiante, e sim com suaves sombras.

Não consegui naquela busca a luz sob um barco solitário, mas a jornada foi enriquecedora, trouxe tanto conhecimento para meu interior que pude abrir mão do objetivo sem nenhuma dificuldade. Encontrei onde ancorar o barco e ter luz e paisagem deslumbrante, lugar deserto, tranquilo, encantador. Por sorte preservado e de difícil acesso, mas agora que tenho a paisagem ideal não vejo a necessidade do barco, nem imagino como o mesmo poderia estar em tal lugar, são antônimos. Será que um barco colorido não irá apagar a beleza dos tons areia deste lugar? Um sinal de engenho do homem poderia macular tal imagem? 

Novamente estou construindo outros sonhos, outros objetivos, estou em uma nova busca, mas ainda não sei bem certo o que, afinal como surpreender-se com os fatos quando colocamos grau de importância nos elementos sem observar que sua ausência também pode ser algo tão ou mais importante.

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