quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Micro Escultura Madeira

Esculpir em madeira em formas diminutas requer muita paciência, pois se trabalhar com madeiras mais moles, facilmente perde peças com corte equivocados, se escolher cernes e madeiras duras, certamente terão escapes, cortes e dificuldades de modelagem, as ferramentas para isso não existem ou talvez existam mas são demasiadamente caras, então estas peças exigem dias para serem formadas, um único pássaro de 2 cm pode levar mais de 2 horas, quanto mais detalhado e expressivo menos possibilidades de feitio existem.
Detalhes como olhos, bicos, assas, são leves abstrações, cortes, perfurações e a mais complexa, incisões de elementos com micro furos e colagem.

As composições são formadas de uma diversidade de madeiras afim de obter mais texturas e cores, e claro ajudar na modelagem das formas.

 Os detalhes não puderam ser capturados pela lente, pois exigiriam um cem fim de imagens para compor minimamente o aspecto real, então preferi manter no máximo 2 ângulos e compensar mostrando uma maior quantidade de peças.


 Os troncos são de arbustivos cultivados, conhecido como Pingo de Ouro (Duranta erecta), que secaram e foram invertidos, utilizando suas raízes para compor os ramos de uma árvore. Sua cor muito clara e retorcida permite destacar-se da base e pássaros.
Na base em sua maioria utilizei a madeira Louro, por ser mais leve e maleável, além de ter texturas e muitas cores que vão do preto (queimado), marrons (cerne central) e amarelos (intermediário até as margens). Na borda ainda eh possível obter mais um tom siena proveniente da resina da casca que seca e macha as bordas.




 Cada ângulo de visão pode ser tão inusitado que é difícil imaginar ser a mesma peça, tornando o desenho de cada face e forma uma eterna criação, trazendo a expressão "acabado", um momento muito doloroso quase indeterminado, pois se observar mais alguns segundos a criatividade pode sugerir mais algumas horas de trabalho.


Sempre tenho de responder a questão de valores e claro das vantagens desse trabalho cada vez mais raro, nestas questões sempre sinto que não consigo ser objetivo e descritivo suficientemente para que possam compreender.

Meus trabalhos não vem de uma escola, mentor, estudos de arte, vem de algum lugar mais profundo e desconhecido, meu eu interior, simplesmente sei fazer assim, ninguém precisou ensinar, mas certamente tudo que vi e aprendi em todas as áreas contribui para este resultado.

Não posso dizer que é um meio lucrativo, pois peças em madeira são vistas desde sempre como inferiores, artesanato, singelas demais. Mesmo assim acredito que o manual, individual, único, sempre terá valor, pois não pode ser copiado, multiplicado, fabricado, reproduzido em escala, logo traz a quem o vê a sensação de inovador, mesmo que eventualmente não tenha interesse.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Micro-Escultura Orgânica

Esculpir formas orgânicas traz um desavio a mais, pois devem trazer traços e detalhes incomuns, não simétricos e dotados de uma estruturação ousada e natural. Algumas partes das peças devem ter milímetros e outras foram cuidadosamente trabalhadas para apresentarem texturas e curvas que a imagem não permite ver mas é possível com um olhar mais cuidadoso imaginar.

Uma composição para mostrar o equilíbrio quase insustentável das formas.
Cenários de vida intensa, a "Família", composta de uma pata e seus patinhos e um casal de pássaros observando o desenrolar curioso da maternidade. Após um arco coberto de flores e um pássaro pairando no centro, uma construção colorida à partir da diversidade das cores das madeiras.

O "Namoro", um casal de aves do paraíso exibindo toda sua majestade.

Toda a ondulação das curvas de uma árvore em circunferências irregulares. Após "O Jardineiro" peça diminuta de menos de 7cm, mas grande força expressiva.
 Troncos esculpidos pela natureza aportados sobre bases e com micro-escultura de pássaros, peças de centímetros de tamanho e com detalhes milimétricos.
O sentimento e expressão marcados nas peças não puderam ser expressos, mas espero ter transmitido um pouco da composição orgânica, natural e que me deu imenso prazer em elaborar, algumas levaram meses outras em segundos mostravam-se como deveriam ser, mesmo assim, deu um trabalho intenso, pois quanto menores as formas, mais quebradiças e delicadas são as peças e mais tentativas são necessárias para obter uma peça completa.



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Arte para o AMANHÃ

A arte sempre marca uma época, um estilo, uma forma de agir e pensar, suas criações mais significativas, tais como, seus materiais, suas formas mais características, seus agentes transformadores e mesmo que utilizem materiais antigos, expressões milenares ainda assim traduzem algo mais profundo, muito mais que uma mensagem de fácil captura, algo instigativo, ela traz na sua essência uma alma, uma ligação do criador com seu meio. Pode ser perturbadora, esquisita, alienadora, impactante, trivial, ousada, inovadora e outras centenas de adjetivos, mas sempre exige a transformação e costuma manter um ritmo próprio de nosso interior, por isso sempre nos questionamos como foi feita, pois ultrapassa nosso conhecimento sempre limitado, exige entender uma outra alma, algo não corpóreo, algo não palpável, e sempre único e original.

Dessa forma os elementos artísticos mudam com os tempos, mas o domínio sobre eles não, seres de vento não trazem solidez, seres de matéria não inspiram o espaço e seus múltiplos vazio dentro do sólido, seres aquáticos não transitam pelos outros meios, os invadem, os contornam, mas sem entrar em conflito, sem competir por espaço.

Mesmo sendo uma composição de todos esses elementos mais básicos não os compreendemos, apenas tentamos dominá-los, utilizar em nosso proveito, agimos como os únicos seres capazes de saber como aproveitar tudo a volta em nossa existência. Pensar em nossos impactos ou nas consequências é ainda algo novo, não evoluímos o suficiente para entender que somos como uma praga que se espalha, dizimando tudo, causando seu próprio extermínio.

Resolvi criar alguns elementos para fazer o impensável, criar elementos físicos que nos mostrem justamente os elementos menos visíveis, sim um pouco de arrogância em pensar que posso traduzir sensações e criar novas consciências à partir de elementos existentes. Nossa mãe natureza vive nos dando exemplos de como nós somos predadores e nunca ouvimos, mas acredito que mesmo assim vale a pena tentar. Não acho a tentativa um perdão, nem uma forma de se mostrar melhor, apenas uma alma que se expõe mais.
Para facilitar o caminho, utilizo um "PORTAL", pois simboliza que precisamos entrar em algo pra saber que deixamos para trás uma outra realidade, trouxe para ele elementos brasileiros para gerar ainda mais identidade, posicionando assim ele geograficamente.

Ele se compõe de formas, luzes e cores primárias, assim como a os elementos mais abundantes deste planeta, os que mais transmitem e fluem na vida. O verde da vegetação, o amarelo que vemos como luz solar tão necessária para o crescimento de tudo, o azul representando as águas e por fim o branco ou translúcido elemento mais comum e abundante, o ar.

Estes se projetam sobre o visitante para lembrar que são presentes, mesmo que possamos atravessá-los, o verde faz-se notar com projeções laser, mais densas cortantes com intensão de lembrar mais enfaticamente sua presença. As projeções são móveis e aleatórias para se manter em constante mutação como no nosso meio.

Na sequência mostro um caminho bem negligenciado que faz com que nossas escolhas tragam cada vez mais impacto: A LIXEIRA DO MUNDO. Um pendente cúbico que não se sustenta e mostra as camadas de resíduos.
Os cubos vazados simbolizam escolhas, externamente com superfícies metálicas, nossos maiores consumos e por dentro iluminadas com cores fluorescentes como verde, amarelo, vermelho e negro (sem luz). Tentam impactar a dinâmica do consumo, todos precisam de um carro, uma casa, um celular e assim por diante.

Nosso consumo acumula espaço que precisa ser sempre ampliado e assim acabam as matas, perdemos a segurança das radiações solares, contaminamos com elementos tóxicos, uma consequência não percebida. Os símbolos vazados mostram uma não escolha em forma de "X" ou um símbolo cíclico, aquela pergunta tão pouco usada, será que preciso mesmo trocar? A cada aquisição a pilha aumenta. O assunto é ainda mais extenso que seus símbolos, como os destinos dados aos nossos resíduos, a exportação de lixo tóxico, o uso dos combustíveis tóxicos, as poucas políticas sustentáveis, o emprego de tecnologias sem análises profundas dos seus impactos e assim segue.

Após tanta abstração trago um conjunto de luminárias o "XADREZ - FUTURO HUMANO", ele mostra as importâncias dos elementos e sua necessidade de ser notado, todos em busca de ser uma presença ilustre, criando uma euforia em ser algo e com isso uma constante necessidade de ter, cada vez mais, de ser notado pelos seus domínios e não pela sua real importância, pelo sua consciência ou pelo seu pensamento coletivo de equilíbrio.


Talvez o maior de nossos problemas nossa soberba presença, não podemos ser apenas felizes e harmônicos devemos ser notados, reverenciados, admirados, carregamos no ego os princípios de nosso fim, não somente nossa finalidade, mas também os conceitos que justificam a destruição de tudo que na nossa estratégia pessoal bloqueia nossa ascenção.

Procurei as peças que não sejam apenas de existência única, mas também de equilíbrio duvidoso, para mostrar que nosso juízo não leva em conta as sequelas, apenas uma unicidade em meio a multidão, um destaque.

Por fim uma instalação realmente grandiosa, uma sensação única, trazer a nossa poluição ao elemento de maior difusão de todos, nosso ar. Os pássaros tornaram-se placas metálicas, suspensas por hastes e cabos, num mundo de reflexos: "O CÉU DO AMANHÃ".
As projeções espaciais procuram relacionar nosso DNA com o vôo dos pássaros, estes não são livres, mas presos como metas, alvo de construção e expansão constante, os conjuntos fixam no ar e no chão para lembrar que o que não vemos é ainda maior do que o que sabemos.
O conjunto está num berço de espelhos onde o espectador soma-se ao conjunto, trazer o céu para o chão materializando esse ser gasoso, sem olhar para o alto, coisa que não é muito confortável e prazerosa para nós humanos.




Mesmo imóvel a sensação de movimento será sentida, complementada por vento e iluminação projetada o ser presente sentirá de maneira etérea a presença do nosso ar.

As cores e reflexos dos materiais simulam um espaço sendo preenchido, como em nossas cidades, somos um pouco pássaros, pois aos pés temos nosso reflexo e não um elemento opaco.

Deslizando sobre os espelhos nosso referencial de firmeza fica suprimido. A construção parece planejada na entrada e perfeitamente integrada, mas outros ângulos a mostram amontoada, confusa, irregular. A dualidade das escolhas como a física traz reações a cada nova ação.

Fica ainda em pensamento se devo articular esses braços permitindo alguns movimentos? Talvez esta ação possa ir muito além de nossas capacidades de absorção e entendimento, então por hora mantenho esta proposta.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Equilíbrio

Quando o material tem algo de especial suas características podem ser potencializadas, é o caso da madeira, leve e resistente permite peças que desafiam a gravidade, o equilíbrio e uma fluência como em movimento.
Esta coleção explorou esta faceta aos extremos algumas sobreviveram outras ultrapassaram as características de resistência até mesmo deste material e falharam, algumas que deram certo:


As formas orgânicas as vezes surpreendem até mesmo o criador.


Mesmo nos limites algumas esculturas mostraram quão longíquos são seus extremos e tão complexas suas expressões de sustentação e suporte, limitado é apenas nosso entendimento.
Imensas equações não explicam algumas formas que surgem quase prontas na natureza, precisando apenas de uma lapidação e se apresenta enigmática.
Incrivelmente seu tamanho é diminuto em relação as demais, mas sua expressão se impõe, não superior a 7 cm, bem longe dos 70 a 80cm das demais e ainda assim com um espaço enorme na sua força natural.
A oposição das fraturas e desenhos rochosos do basalto em harmonia com as curvas leves e orgânicas da madeira.
Se tudo tem um fim, prefiro imaginar que o porvir sempre pode ser mais interessante, mesmo que temporariamente o momento se mostre atrós.