Os trabalhos mostrando as crueldades contra a natureza levaram-me em 1998 a produzir outra tela de grandes proporções o "Horizonte Devastador", mostrado pela primeira vez no mesmo ano em exposição individual no restaurante "Via Sete" em Florianópolis no terceiro piso em uma nova ala recém inaugurada.
O conjunto de obras era muito grande mas a que apresento abaixo sem dúvida foi a mais impactante, pois desde o princípio foi controversa. Com dimensões de 1,8x2 metros foi enquadrada por descuido quando ainda era um tela branca com o fundo virado para a frente, mostrando o tecido como face da pintura em vez do engomado e liso da tela. Este fato criou textura nunca antes imaginadas, mais suaves, mais esfumaçadas e também em tons mais terrosos.
A idéia original era mostrar um horizonte teatral onde um fundo amarelo e sem elementos era coberto por montanhas verdes e nessa trajetória mostrar um dos caminhos que pode levar ao fato.
Seja por uma explosão atômica, destruição da atmosfera com gases tóxicos ou pela destruição de nossas matas, a natureza busca forças para recuperar-se e florir em meio a catástrofe.
Troncos de árvores mortos e retorcidos dançam em um solo fluído, lamoso, ondulando e distorcendo as figuras, o horizonte amarelo mostra-se impactante e espetacularmente presente, tentando invadir todo o horizonte, quase no limite das montanhas verdes que o prendem. Não trata-se de um por do sol brilhante e sim de uma tênua ligação entre vida e morte.
Do horizonte longíquo até a linha em nossa frente há uma progressão entre árvores, solo, rochas até os primeiros sinais do renascimento da vida e enfim as flores.
A textura incrível da juta, torna o trabalho ainda mais engrandecedor, pois cria relevos além da pintura, traz as tramas do telado para a composição.
Ao meio logo a nossa frente as flores invadem a cena, para apagar todo tom ferroso, levando nova esperança à frente da catastrofe, como nossas matas que insistem em resurgir mesmo após nossas queimadas.
São flores de todas as cores, lírios brancos de paz, margaridas, tulipas, pendentes cachos azuis em formas simples pouco arojadas, mostrando que algo de mais complexo já perdeu-se, mas o mais rústico ainda assim, tem sua beleza.
E por fim no canto esquerdo uma sutil assinatura que precisa ser procurada com muito esmerro para ser encontrada, pois dadas as proporções e formas tenta passar desapercebida.
Os fatos que envolvem esta tela são sempre curiosos, pois sua armação apesar de bem reforçada, quebrou sendo a única das mais de 30 telas a ter este dano após a exposição.
Ainda mais curioso é o feixe de luz solar que insistiu em cruzar sobre a mesma hoje quando resolvi novamente fotografar a mesma.
Abaixo outra façanha desta tela, quando reproduzida no convite para exposição, apesar do papel liso, a mesma transmitiu uma visão esfumaçada, sem nenhum apelo a editoração da imagem, apenas impondo-se frente a amostra.
Parece que esta tela tem mais alguns planos estranhos, então antes que resolva desaparecer tão misteriosamente quanto surgiu e ressurge, resolvi postar a mesma no blog para ver que caminhos ainda ela tem a contar.
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