quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Arte para o AMANHÃ

A arte sempre marca uma época, um estilo, uma forma de agir e pensar, suas criações mais significativas, tais como, seus materiais, suas formas mais características, seus agentes transformadores e mesmo que utilizem materiais antigos, expressões milenares ainda assim traduzem algo mais profundo, muito mais que uma mensagem de fácil captura, algo instigativo, ela traz na sua essência uma alma, uma ligação do criador com seu meio. Pode ser perturbadora, esquisita, alienadora, impactante, trivial, ousada, inovadora e outras centenas de adjetivos, mas sempre exige a transformação e costuma manter um ritmo próprio de nosso interior, por isso sempre nos questionamos como foi feita, pois ultrapassa nosso conhecimento sempre limitado, exige entender uma outra alma, algo não corpóreo, algo não palpável, e sempre único e original.

Dessa forma os elementos artísticos mudam com os tempos, mas o domínio sobre eles não, seres de vento não trazem solidez, seres de matéria não inspiram o espaço e seus múltiplos vazio dentro do sólido, seres aquáticos não transitam pelos outros meios, os invadem, os contornam, mas sem entrar em conflito, sem competir por espaço.

Mesmo sendo uma composição de todos esses elementos mais básicos não os compreendemos, apenas tentamos dominá-los, utilizar em nosso proveito, agimos como os únicos seres capazes de saber como aproveitar tudo a volta em nossa existência. Pensar em nossos impactos ou nas consequências é ainda algo novo, não evoluímos o suficiente para entender que somos como uma praga que se espalha, dizimando tudo, causando seu próprio extermínio.

Resolvi criar alguns elementos para fazer o impensável, criar elementos físicos que nos mostrem justamente os elementos menos visíveis, sim um pouco de arrogância em pensar que posso traduzir sensações e criar novas consciências à partir de elementos existentes. Nossa mãe natureza vive nos dando exemplos de como nós somos predadores e nunca ouvimos, mas acredito que mesmo assim vale a pena tentar. Não acho a tentativa um perdão, nem uma forma de se mostrar melhor, apenas uma alma que se expõe mais.
Para facilitar o caminho, utilizo um "PORTAL", pois simboliza que precisamos entrar em algo pra saber que deixamos para trás uma outra realidade, trouxe para ele elementos brasileiros para gerar ainda mais identidade, posicionando assim ele geograficamente.

Ele se compõe de formas, luzes e cores primárias, assim como a os elementos mais abundantes deste planeta, os que mais transmitem e fluem na vida. O verde da vegetação, o amarelo que vemos como luz solar tão necessária para o crescimento de tudo, o azul representando as águas e por fim o branco ou translúcido elemento mais comum e abundante, o ar.

Estes se projetam sobre o visitante para lembrar que são presentes, mesmo que possamos atravessá-los, o verde faz-se notar com projeções laser, mais densas cortantes com intensão de lembrar mais enfaticamente sua presença. As projeções são móveis e aleatórias para se manter em constante mutação como no nosso meio.

Na sequência mostro um caminho bem negligenciado que faz com que nossas escolhas tragam cada vez mais impacto: A LIXEIRA DO MUNDO. Um pendente cúbico que não se sustenta e mostra as camadas de resíduos.
Os cubos vazados simbolizam escolhas, externamente com superfícies metálicas, nossos maiores consumos e por dentro iluminadas com cores fluorescentes como verde, amarelo, vermelho e negro (sem luz). Tentam impactar a dinâmica do consumo, todos precisam de um carro, uma casa, um celular e assim por diante.

Nosso consumo acumula espaço que precisa ser sempre ampliado e assim acabam as matas, perdemos a segurança das radiações solares, contaminamos com elementos tóxicos, uma consequência não percebida. Os símbolos vazados mostram uma não escolha em forma de "X" ou um símbolo cíclico, aquela pergunta tão pouco usada, será que preciso mesmo trocar? A cada aquisição a pilha aumenta. O assunto é ainda mais extenso que seus símbolos, como os destinos dados aos nossos resíduos, a exportação de lixo tóxico, o uso dos combustíveis tóxicos, as poucas políticas sustentáveis, o emprego de tecnologias sem análises profundas dos seus impactos e assim segue.

Após tanta abstração trago um conjunto de luminárias o "XADREZ - FUTURO HUMANO", ele mostra as importâncias dos elementos e sua necessidade de ser notado, todos em busca de ser uma presença ilustre, criando uma euforia em ser algo e com isso uma constante necessidade de ter, cada vez mais, de ser notado pelos seus domínios e não pela sua real importância, pelo sua consciência ou pelo seu pensamento coletivo de equilíbrio.


Talvez o maior de nossos problemas nossa soberba presença, não podemos ser apenas felizes e harmônicos devemos ser notados, reverenciados, admirados, carregamos no ego os princípios de nosso fim, não somente nossa finalidade, mas também os conceitos que justificam a destruição de tudo que na nossa estratégia pessoal bloqueia nossa ascenção.

Procurei as peças que não sejam apenas de existência única, mas também de equilíbrio duvidoso, para mostrar que nosso juízo não leva em conta as sequelas, apenas uma unicidade em meio a multidão, um destaque.

Por fim uma instalação realmente grandiosa, uma sensação única, trazer a nossa poluição ao elemento de maior difusão de todos, nosso ar. Os pássaros tornaram-se placas metálicas, suspensas por hastes e cabos, num mundo de reflexos: "O CÉU DO AMANHÃ".
As projeções espaciais procuram relacionar nosso DNA com o vôo dos pássaros, estes não são livres, mas presos como metas, alvo de construção e expansão constante, os conjuntos fixam no ar e no chão para lembrar que o que não vemos é ainda maior do que o que sabemos.
O conjunto está num berço de espelhos onde o espectador soma-se ao conjunto, trazer o céu para o chão materializando esse ser gasoso, sem olhar para o alto, coisa que não é muito confortável e prazerosa para nós humanos.




Mesmo imóvel a sensação de movimento será sentida, complementada por vento e iluminação projetada o ser presente sentirá de maneira etérea a presença do nosso ar.

As cores e reflexos dos materiais simulam um espaço sendo preenchido, como em nossas cidades, somos um pouco pássaros, pois aos pés temos nosso reflexo e não um elemento opaco.

Deslizando sobre os espelhos nosso referencial de firmeza fica suprimido. A construção parece planejada na entrada e perfeitamente integrada, mas outros ângulos a mostram amontoada, confusa, irregular. A dualidade das escolhas como a física traz reações a cada nova ação.

Fica ainda em pensamento se devo articular esses braços permitindo alguns movimentos? Talvez esta ação possa ir muito além de nossas capacidades de absorção e entendimento, então por hora mantenho esta proposta.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Equilíbrio

Quando o material tem algo de especial suas características podem ser potencializadas, é o caso da madeira, leve e resistente permite peças que desafiam a gravidade, o equilíbrio e uma fluência como em movimento.
Esta coleção explorou esta faceta aos extremos algumas sobreviveram outras ultrapassaram as características de resistência até mesmo deste material e falharam, algumas que deram certo:


As formas orgânicas as vezes surpreendem até mesmo o criador.


Mesmo nos limites algumas esculturas mostraram quão longíquos são seus extremos e tão complexas suas expressões de sustentação e suporte, limitado é apenas nosso entendimento.
Imensas equações não explicam algumas formas que surgem quase prontas na natureza, precisando apenas de uma lapidação e se apresenta enigmática.
Incrivelmente seu tamanho é diminuto em relação as demais, mas sua expressão se impõe, não superior a 7 cm, bem longe dos 70 a 80cm das demais e ainda assim com um espaço enorme na sua força natural.
A oposição das fraturas e desenhos rochosos do basalto em harmonia com as curvas leves e orgânicas da madeira.
Se tudo tem um fim, prefiro imaginar que o porvir sempre pode ser mais interessante, mesmo que temporariamente o momento se mostre atrós.

sábado, 15 de agosto de 2015

Humano Geométrico

Da esquerda pra direita minhas dúvidas, qual coleção produzir: Humano Geométrico, Equilíbrio, Expressão, Corpo e Miniaturas. São 5 linhas diferentes que apareceram quase que simultâneamente, acabei produzindo peças em todas as linhas, e finalmente há um conjunto a exibir.

Na primeira tentativa comecei a esculpir e as peças se mostraram desconexas, pouco arrojadas, com formas planas interessantes, mas pouca expressão.

Fui pro desenho criar algo mais solto e sem a rigidez dos cortes da madeira, pesquisei meus rascunhos e encontrei um esboço que me agradou pela leveza e fluidez, encontrei madeira leve e moldável permitindo a criação do primeiro elemento.



Já na primeira peça vindo do caderno de esboços saltou a minha imaginação e multiplicou o senso criativo.

Após algumas alterações e inclusões no design inicial, voltei pro esboço e surgiram inúmeras formas, soltas, leves, geométricas e de grande expressão, em movimento intenso e harmônico.



Uma Bailarina expressa sua leveza ao  lado de uma pesada forma que observa seu giro com feições da madeira, um nó traz um ponto único e original.


O Esquiador desliza solto apoiado em único ponto e marcando um nó que mostra sua particularidade.

A direita uma mãe na esperança de engravidar: Gravidez Psicológica, mostra todos os traços e formas, mas ausência de feto no vazio central.



Um olho nó da madeira e uma forma robusta mostra uma tendência de trabalhar o corpo, mas com percurso disforme, obcecado, o caminho do Corpo Dissoluto.

Leve e sensual as formas femininas mostram-se como um Anjo.



A bailarina já traz uma derivação da coleção com emprego de vários tipos de madeira, pelo menos cinco delas: Eucalipto, Manacá, Cipó, Anjico e Louro. As texturas e cores trazem mais elementos a trabalhar, nasce uma derivação da coleção, uma nova gama de possibilidades.
A coleção continua utilizando características únicas, presentes na madeira para dar uma personalidade e expressão além das formas. Em oração a Freira traz uma sobreidade de sua elevada força espiritual.

Ainda sem acabamento final o caminho das esculturas mostra-se uma trajetória imensa a percorrer.


quarta-feira, 29 de julho de 2015

Sem Controle da Criação

Uma explosão de idéias cresceram, tantas formas com personalidade própria que foi impossível mostrar um conjunto, pois as esculturas mostravam-se únicas ou matrizes de uma nova tendência, coleção. A cada esforço de criar uma sequência sempre surgia uma peça excludente, pensei em até publicar todas mas quebraria uma estrutura a que me propunha, então demorei mais para entender esse caminho, explico um pouco de como é complexo lidar com materiais orgânicos, únicos e oriundos da natureza e não da produção industrial, acho que estes desencontros mostram mais caminhos do que podia pretender percorrer.

Produzi para cada peça várias opções até encontrar algo que mostrasse ser um elemento correto de conjunto, assim algumas peças tiveram 4 cabeças, 3 pernas e assim por diante até oferecer uma harmonia compatível com o que já havia. Assim também as peças fugiam dos padrões gerando outros temas, outros pensamentos, acredito ser a primavera da criatividade, pois brotaram todas as formas: Humanas, abstratas, geométricas, fluidas mas sempre com impacto e elevada originalidade .

 Orgânico não são perecíveis, apenas formas menos angulares, únicas. Também não são um conjunto de formas curvas, pois sempre opõem-se a estas formas inusitadas, criativas com função temporal pois registram fatos. Estas notícias não são apresentadas de forma clara, simples, leiga, exigem do leitor conhecimento, estudo de particularidades, olhar cuidadoso, meticuloso e imenso senso estético comparativo. Existem nestas formas elementos de mais simples compreensão, ou talvez, que já aprendemos a ler,  tais como os anéis de idade de uma árvore, as cores das madeiras, as funções básicas de um ser vegetal, mas estamos apenas em parte conhecendo a imensa linguagem.
 O Orgânico não agrada pela repetição, pela simetria pela nossa função de ordem, pois está a frente destas simplificações que fizemos para estar no controle, traz cores que não se repetem, mesmo lado a lado, folha a folha, cada uma traz sua personalidade e unicidade.
Não há porque manter padrões, criar lissura, alimentar uma textura única de modo a harmonizar o conjunto, é no caos de na ausência de objetivo que se materializa cada elemento.

 Sobrevivem a mais tempo que nós então não utilizam seus talentos únicos pra dominar, pois buscam o convívio com o diferente, que junto compõe algo melhor.
 Quando criam-se depressões estas mostram-se úteis, necessárias para maior integração e complexidade, gerando uma mais elevada diversidade. Nós quando algo mostra-se irregular, logo procuramos tampar, preencher, alisar, planificar, jamais nos adaptamos, queremos sempre ficar dentro dos conceitos conhecidos, das funções pré-estabelecidas.
 Desconstruir não está nos hábitos do humano, ainda estamos tentando aprender a reciclar, criamos elementos que mal sabemos como ficarão após o uso ou desgaste, não evoluímos para uma vivência longínqua, milenar, apenas para prazos curtos de nossa rápida passagem.

Simples, singelo, não é menor, apenas limitado no entendimento do classificador, por desconhecimento, por falta de observação ou pela pressa de saber sua utilidade prática, seu uso, seu benefício. Mesmo assim construímos beleza sem saber porque, pagamos muito por visões pitorescas, pois precisamos mais que existir, vestir, comer, viver, necessitamos preencher nossa alma com algo mais.