segunda-feira, 29 de junho de 2015

Profundezas

Os maiores abismos do mundo estão sob as águas, nelas estão os mistérios das formas, da vida sem luz, das extremas pressões, de elementos altamente tóxicos, mesmo assim há vida, adaptada a falta de tudo, isolada de nossas ações de contaminação.

Da água onde surgiu a vida, nascem elementos de fluidez, de sinuosas formas, por vezes grotescos, mas com habilidades únicas. Um lugar onde nossa tecnologia ainda não alcança, descansa sereno em seus mistérios.


Algumas das formas esculpidas pelo tempo e ação das águas e portanto, enegrecidas pela ausência da necessidade de estabelecer cores, trazendo apenas luz para seu próprio deslocamento, biolumes, maleável forma, sorrateira e discreta passagem.



Nascida do acaso as formas me procuraram e se revelaram sem grandes esforços, ao natural, como que ávidas para conhecer novos seres, novas vidas e desfrutarem de novas jornadas.











No mundo real há sempre espaço para o imaginário, pois somos mais que físicos, temos no mesmo espaço elementos abstratos, sentidos e emoções que costumam contradizer as razões. Os padrões sólidos atendem apenas em parte, precisamos em nossas vidas pelo lado inusitado que desperta, que encanta mais do que somos, mais profundamente, remetendo a algo maior a que todos pertencemos. 





Se um dia eu desaparecer, muito ainda há de viver, os traços que deixei aqui, os laços que me fez sentir, os abraços e o amor que tive e não pude deixar partir.

Como flor de pessegueiro que emerge em tronco grotesco, cercado de resina pegajosa, mas de intensidade vibrante em contraste sutil, de beleza singela, transmitindo uma alegria de renovação aos olhares frios e escuros, como um dia de Sol em sua janela.

Florescer no deserto de seu coração, aquecer o inverno de seus pensamentos, abrandar suas tragédias sucessivas, moldar como a água a dureza das pedras do seu caminho, afagar com leveza e ternura sua face maltratada por muitas agruras.

Deixo uma pegada que pode nunca ser encontrada, nem relacionada ou referenciada, apenas mais uma marca, que pode ser superada, suplantada, subestimada, mesmo assim sem jamais se perder ao vento, sendo no máximo deixada guardada até o dia de florescer.