quarta-feira, 29 de julho de 2015

Sem Controle da Criação

Uma explosão de idéias cresceram, tantas formas com personalidade própria que foi impossível mostrar um conjunto, pois as esculturas mostravam-se únicas ou matrizes de uma nova tendência, coleção. A cada esforço de criar uma sequência sempre surgia uma peça excludente, pensei em até publicar todas mas quebraria uma estrutura a que me propunha, então demorei mais para entender esse caminho, explico um pouco de como é complexo lidar com materiais orgânicos, únicos e oriundos da natureza e não da produção industrial, acho que estes desencontros mostram mais caminhos do que podia pretender percorrer.

Produzi para cada peça várias opções até encontrar algo que mostrasse ser um elemento correto de conjunto, assim algumas peças tiveram 4 cabeças, 3 pernas e assim por diante até oferecer uma harmonia compatível com o que já havia. Assim também as peças fugiam dos padrões gerando outros temas, outros pensamentos, acredito ser a primavera da criatividade, pois brotaram todas as formas: Humanas, abstratas, geométricas, fluidas mas sempre com impacto e elevada originalidade .

 Orgânico não são perecíveis, apenas formas menos angulares, únicas. Também não são um conjunto de formas curvas, pois sempre opõem-se a estas formas inusitadas, criativas com função temporal pois registram fatos. Estas notícias não são apresentadas de forma clara, simples, leiga, exigem do leitor conhecimento, estudo de particularidades, olhar cuidadoso, meticuloso e imenso senso estético comparativo. Existem nestas formas elementos de mais simples compreensão, ou talvez, que já aprendemos a ler,  tais como os anéis de idade de uma árvore, as cores das madeiras, as funções básicas de um ser vegetal, mas estamos apenas em parte conhecendo a imensa linguagem.
 O Orgânico não agrada pela repetição, pela simetria pela nossa função de ordem, pois está a frente destas simplificações que fizemos para estar no controle, traz cores que não se repetem, mesmo lado a lado, folha a folha, cada uma traz sua personalidade e unicidade.
Não há porque manter padrões, criar lissura, alimentar uma textura única de modo a harmonizar o conjunto, é no caos de na ausência de objetivo que se materializa cada elemento.

 Sobrevivem a mais tempo que nós então não utilizam seus talentos únicos pra dominar, pois buscam o convívio com o diferente, que junto compõe algo melhor.
 Quando criam-se depressões estas mostram-se úteis, necessárias para maior integração e complexidade, gerando uma mais elevada diversidade. Nós quando algo mostra-se irregular, logo procuramos tampar, preencher, alisar, planificar, jamais nos adaptamos, queremos sempre ficar dentro dos conceitos conhecidos, das funções pré-estabelecidas.
 Desconstruir não está nos hábitos do humano, ainda estamos tentando aprender a reciclar, criamos elementos que mal sabemos como ficarão após o uso ou desgaste, não evoluímos para uma vivência longínqua, milenar, apenas para prazos curtos de nossa rápida passagem.

Simples, singelo, não é menor, apenas limitado no entendimento do classificador, por desconhecimento, por falta de observação ou pela pressa de saber sua utilidade prática, seu uso, seu benefício. Mesmo assim construímos beleza sem saber porque, pagamos muito por visões pitorescas, pois precisamos mais que existir, vestir, comer, viver, necessitamos preencher nossa alma com algo mais.




segunda-feira, 29 de junho de 2015

Profundezas

Os maiores abismos do mundo estão sob as águas, nelas estão os mistérios das formas, da vida sem luz, das extremas pressões, de elementos altamente tóxicos, mesmo assim há vida, adaptada a falta de tudo, isolada de nossas ações de contaminação.

Da água onde surgiu a vida, nascem elementos de fluidez, de sinuosas formas, por vezes grotescos, mas com habilidades únicas. Um lugar onde nossa tecnologia ainda não alcança, descansa sereno em seus mistérios.


Algumas das formas esculpidas pelo tempo e ação das águas e portanto, enegrecidas pela ausência da necessidade de estabelecer cores, trazendo apenas luz para seu próprio deslocamento, biolumes, maleável forma, sorrateira e discreta passagem.



Nascida do acaso as formas me procuraram e se revelaram sem grandes esforços, ao natural, como que ávidas para conhecer novos seres, novas vidas e desfrutarem de novas jornadas.











No mundo real há sempre espaço para o imaginário, pois somos mais que físicos, temos no mesmo espaço elementos abstratos, sentidos e emoções que costumam contradizer as razões. Os padrões sólidos atendem apenas em parte, precisamos em nossas vidas pelo lado inusitado que desperta, que encanta mais do que somos, mais profundamente, remetendo a algo maior a que todos pertencemos. 





Se um dia eu desaparecer, muito ainda há de viver, os traços que deixei aqui, os laços que me fez sentir, os abraços e o amor que tive e não pude deixar partir.

Como flor de pessegueiro que emerge em tronco grotesco, cercado de resina pegajosa, mas de intensidade vibrante em contraste sutil, de beleza singela, transmitindo uma alegria de renovação aos olhares frios e escuros, como um dia de Sol em sua janela.

Florescer no deserto de seu coração, aquecer o inverno de seus pensamentos, abrandar suas tragédias sucessivas, moldar como a água a dureza das pedras do seu caminho, afagar com leveza e ternura sua face maltratada por muitas agruras.

Deixo uma pegada que pode nunca ser encontrada, nem relacionada ou referenciada, apenas mais uma marca, que pode ser superada, suplantada, subestimada, mesmo assim sem jamais se perder ao vento, sendo no máximo deixada guardada até o dia de florescer.




quarta-feira, 29 de abril de 2015

Imaginariun


A segunda coleção de esculturas em madeiras caiadas pelos rios traz a frente o mistério, inédito, vivo num local particular e por poucos mostrados, de tempos em tempos surgem estas visões, em desenhos, músicas, filmes e agora em esculturas maderificadas pela força da terra, água e decomposta pelos seres do ar. Trazida a tona às vezes por si própria, outras vezes pela lapidação de arestas, ao acaso, ao longo de anos de ação dos elementos, recomposta para um novo tempo.


Das profundezas da mata, ocultos, secretos, protegidos de seus predadores, trazidos à luz ou meia luz, para vislumbrar nossa imensa sensação de novidades, originalidade e força oriunda da terra, de um olhar único sob domínio de seu I M A G I N A R I U M.

A pequena Ave Dragão, ligeira, esguia desdobrando suas sinuosidades no ar.









Curioso de elevada destreza, com equilíbrio ímpar e andar lento em compasso de dança, sempre pronto para enrolar-se para passar desapercebido, o Lagarto Ondular.

Ouriçado, mostrando toda sua indignação com as visitas, o Ardico de Esporos Rubros.

Híbrido de vários animais e ao mesmo tempo singular, a Laminária Incandescente, capaz das mais curiosas curvas em voo, com a habilidade inflar cores luminoscentes e depois sumir no ar.


Tão lentos que parecem imóveis, de aspecto vegetativo áspero e radicular, apresentando discos completos ou em formação, as Árvores da Vida são elementais de intrincados segredos trazidos de sua longevidade.

Em pleno florescimento, época de nascimento muito raro de novos seres, a vida se regenerando e formando novas criaturas para seguir protegendo as matas de seus algozes.

 Únicas como tudo que a natureza forma, cada Árvore da Vida tem suas características, seus dons, suas mágicas habilidades, mas fortuitas e silenciosas, nunca desejam apresentar-se aos transeuntes.

Rápido, muito rápido, o Lêmure Bicolor, mergulha nas águas como peixe com plena desenvoltura, pode apreciar passeios por riachos, entre pedras e troncos, sempre curioso em observação, o mensageiro das notícias aos demais elementais.


Nem sempre o mundo está contido nos limites do físico, do palpável, há outros mundos, por caminhos que ainda não descobrimos, por portais que ainda não estamos preparados a passar, o tamanho desses mundos e suas riquezas estão no olhar de seus menores seres, pois estes enxergam tudo mais grandioso, mais magnífico e portanto, são mais felizes onde estão, mais autótrofos, incrivelmente mais cientes de seu papel na imensidão.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Voar

Algo mais leve, mais rápido, mais suave, ou apenas uma evolução da forma em oposição ao ar. Os pássaros trazem a sensação de liberdade, harmonia e curiosidade inovando um ambiente e captando as atenções para si. Utilizando madeiras coletadas em rios, riachos e sobras apresento formas que podem ser tão semelhantes as espécies existentes ou mesmo, tão originais que ainda não foram vistos.

Em pleno vôo as asas vibram e espanam conduzindo a direções orquestradas pelo navegador.


Pousados ainda exibem linhas complexas, esguias mas com propósitos claros, definidos e altamente tecnológicos.


Os espaços incompletos trazem uma marchetaria, com infusão de outras madeiras e inclusão de cores gerando destaques naturais, assim como a composição de diversas madeiras traz além das formas e texturas detalhes especiais.
Os elementos tomam as dimensões esculpidas não somente pelo artista, mas também pela ajuda de seres naturais que provocam a degradação de partes, perfurando e moldando ao meio um simples pedaço de madeira que após intensa limpeza molda-se em algo orgânico e incomum.




O Encontro entre material e os sentidos, levados com o espírito para todas as partes onde tal ser possa existir, foi assim que pedaços de madeira vagando por rios e riachos despertaram a curiosidade de suas formas, texturas e cores para tocar o dom guardado por meia vida e desperto em momentos, um conhecimento que não pode-se transmitir pois é nato, faz parte da essência de cada ser.

Retirando as rebarbas, reformulando as posições, cortando, serrando e lixando surgiram novas formas, não sei dizer se mais belas, mas sem dúvida mais extravagantes, com destino mais nobre que apodrecer nos rios e fazer parte do solo, destinam-se a tocar o mais íntimo das pessoas e trazer de lá um sorriso, uma sensação de curiosidade, uma satisfação, um desejo, ou qualquer outra reação que retire os humanos do cotidiano e traga eles para um mundo particular e cheio de novidades.

Traz também o natural e orgânico para ser mostrado como algo que deve ser respeitado e conservado, um convívio sereno que ainda em grande parte insistimos em degradar, para dar frente a desejos mais concretos, mais sólidos, mais futurísticos e não mais necessários, apenas atendem a geração de mais massa e menos beleza.