A arte sempre marca uma época, um estilo, uma forma de agir e pensar, suas criações mais significativas, tais como, seus materiais, suas formas mais características, seus agentes transformadores e mesmo que utilizem materiais antigos, expressões milenares ainda assim traduzem algo mais profundo, muito mais que uma mensagem de fácil captura, algo instigativo, ela traz na sua essência uma alma, uma ligação do criador com seu meio. Pode ser perturbadora, esquisita, alienadora, impactante, trivial, ousada, inovadora e outras centenas de adjetivos, mas sempre exige a transformação e costuma manter um ritmo próprio de nosso interior, por isso sempre nos questionamos como foi feita, pois ultrapassa nosso conhecimento sempre limitado, exige entender uma outra alma, algo não corpóreo, algo não palpável, e sempre único e original.
Dessa forma os elementos artísticos mudam com os tempos, mas o domínio sobre eles não, seres de vento não trazem solidez, seres de matéria não inspiram o espaço e seus múltiplos vazio dentro do sólido, seres aquáticos não transitam pelos outros meios, os invadem, os contornam, mas sem entrar em conflito, sem competir por espaço.
Mesmo sendo uma composição de todos esses elementos mais básicos não os compreendemos, apenas tentamos dominá-los, utilizar em nosso proveito, agimos como os únicos seres capazes de saber como aproveitar tudo a volta em nossa existência. Pensar em nossos impactos ou nas consequências é ainda algo novo, não evoluímos o suficiente para entender que somos como uma praga que se espalha, dizimando tudo, causando seu próprio extermínio.
Resolvi criar alguns elementos para fazer o impensável, criar elementos físicos que nos mostrem justamente os elementos menos visíveis, sim um pouco de arrogância em pensar que posso traduzir sensações e criar novas consciências à partir de elementos existentes. Nossa mãe natureza vive nos dando exemplos de como nós somos predadores e nunca ouvimos, mas acredito que mesmo assim vale a pena tentar. Não acho a tentativa um perdão, nem uma forma de se mostrar melhor, apenas uma alma que se expõe mais.
Para facilitar o caminho, utilizo um "PORTAL", pois simboliza que precisamos entrar em algo pra saber que deixamos para trás uma outra realidade, trouxe para ele elementos brasileiros para gerar ainda mais identidade, posicionando assim ele geograficamente.
Ele se compõe de formas, luzes e cores primárias, assim como a os elementos mais abundantes deste planeta, os que mais transmitem e fluem na vida. O verde da vegetação, o amarelo que vemos como luz solar tão necessária para o crescimento de tudo, o azul representando as águas e por fim o branco ou translúcido elemento mais comum e abundante, o ar.
Estes se projetam sobre o visitante para lembrar que são presentes, mesmo que possamos atravessá-los, o verde faz-se notar com projeções laser, mais densas cortantes com intensão de lembrar mais enfaticamente sua presença. As projeções são móveis e aleatórias para se manter em constante mutação como no nosso meio.
Na sequência mostro um caminho bem negligenciado que faz com que nossas escolhas tragam cada vez mais impacto: A LIXEIRA DO MUNDO. Um pendente cúbico que não se sustenta e mostra as camadas de resíduos.
Os cubos vazados simbolizam escolhas, externamente com superfícies metálicas, nossos maiores consumos e por dentro iluminadas com cores fluorescentes como verde, amarelo, vermelho e negro (sem luz). Tentam impactar a dinâmica do consumo, todos precisam de um carro, uma casa, um celular e assim por diante.
Nosso consumo acumula espaço que precisa ser sempre ampliado e assim acabam as matas, perdemos a segurança das radiações solares, contaminamos com elementos tóxicos, uma consequência não percebida. Os símbolos vazados mostram uma não escolha em forma de "X" ou um símbolo cíclico, aquela pergunta tão pouco usada, será que preciso mesmo trocar? A cada aquisição a pilha aumenta. O assunto é ainda mais extenso que seus símbolos, como os destinos dados aos nossos resíduos, a exportação de lixo tóxico, o uso dos combustíveis tóxicos, as poucas políticas sustentáveis, o emprego de tecnologias sem análises profundas dos seus impactos e assim segue.
Após tanta abstração trago um conjunto de luminárias o "XADREZ - FUTURO HUMANO", ele mostra as importâncias dos elementos e sua necessidade de ser notado, todos em busca de ser uma presença ilustre, criando uma euforia em ser algo e com isso uma constante necessidade de ter, cada vez mais, de ser notado pelos seus domínios e não pela sua real importância, pelo sua consciência ou pelo seu pensamento coletivo de equilíbrio.
Talvez o maior de nossos problemas nossa soberba presença, não podemos ser apenas felizes e harmônicos devemos ser notados, reverenciados, admirados, carregamos no ego os princípios de nosso fim, não somente nossa finalidade, mas também os conceitos que justificam a destruição de tudo que na nossa estratégia pessoal bloqueia nossa ascenção.
Procurei as peças que não sejam apenas de existência única, mas também de equilíbrio duvidoso, para mostrar que nosso juízo não leva em conta as sequelas, apenas uma unicidade em meio a multidão, um destaque.
Por fim uma instalação realmente grandiosa, uma sensação única, trazer a nossa poluição ao elemento de maior difusão de todos, nosso ar. Os pássaros tornaram-se placas metálicas, suspensas por hastes e cabos, num mundo de reflexos: "O CÉU DO AMANHÃ".
As projeções espaciais procuram relacionar nosso DNA com o vôo dos pássaros, estes não são livres, mas presos como metas, alvo de construção e expansão constante, os conjuntos fixam no ar e no chão para lembrar que o que não vemos é ainda maior do que o que sabemos.
O conjunto está num berço de espelhos onde o espectador soma-se ao conjunto, trazer o céu para o chão materializando esse ser gasoso, sem olhar para o alto, coisa que não é muito confortável e prazerosa para nós humanos.
Mesmo imóvel a sensação de movimento será sentida, complementada por vento e iluminação projetada o ser presente sentirá de maneira etérea a presença do nosso ar.
As cores e reflexos dos materiais simulam um espaço sendo preenchido, como em nossas cidades, somos um pouco pássaros, pois aos pés temos nosso reflexo e não um elemento opaco.
Deslizando sobre os espelhos nosso referencial de firmeza fica suprimido. A construção parece planejada na entrada e perfeitamente integrada, mas outros ângulos a mostram amontoada, confusa, irregular. A dualidade das escolhas como a física traz reações a cada nova ação.
Fica ainda em pensamento se devo articular esses braços permitindo alguns movimentos? Talvez esta ação possa ir muito além de nossas capacidades de absorção e entendimento, então por hora mantenho esta proposta.