quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Halloween

Um dia especial para espantar os preconceitos e mostrar que há beleza em todos os seres.
Dê asas as suas idéias e as faça voar além do imaginado.
Lutar e não conseguir não é frustração mas elevação de planos, mais completos, mais inteligentes, mais viáveis, mais maduros e portanto cedo o tarde darão seus frutos.
Bene la vi, tunda si for, anti pro qua, leiuta sensiva

domingo, 27 de outubro de 2013

Movimento

Flor azul
               azul celeste,
                                 tão pálida e singela,
                                                              pequenina, em muitas formas, alva!
                                                                                                                    Na simplicidade dela, tão bela!

Movimento em arco,
                              curvo em expressão,
                                                             busca incansável, exaustiva!
                                                                                         Sempre digno é o caminho que alegra o coração.


Mistura e mexe,
mexe mais um pouco,
procura o ponto, e mexe,
mais azul, mais vermelho, mais nada!
Então mexe na mistura e não está no ponto, quanto mais cor, mais fica branco, então mexe, e mexe.
Agora quase tem um borrão, mas em si continua branco.
Ahh! Claro! Não é a cor que faz a mistura, nem o ponto que chega ao mexer.
Então o que faço?
Precisava apenas parar para pode ver.
Já estava pronto, não havia nada a fazer, apenas entender.


Estica as fibras,
                      em linhas,
                                      em torção.
        Flexiona e alonga,
                                    movimenta!
                 Deixe sempre pronto,
                                    há disposição,
                                      o carinho,
                                         a alegria,
                                              o alento.
Estender os braços para ajudar,
             pelo simples fato de doar,
                 sem nenhuma remuneração.

Vento que leva, assopra e refresca, traz a chuva e a leva, traga paz,
                                                           seque as dores, alivie as trevas, traga apenas coisas leves,
                                                                                                                     que em nenhum coração pese.
Equilíbrio!
                 Sem ação,
                                     não leva a nada,
                                                              apenas a perda da cor,
                                                                                                      do sentimento,
                                                                                                                               da emoção.

                                                                                                        Poucas palavras, mas o que pode ver?
                                                                  Flores em tons azuis?
                 Rosas azuis e brancas?
                                                                               O vento movendo as flores?
      O trenó do papai Noel?

Espero que veja seu interior e o que ele traz de bom para os outros.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Momentos de Luz Fotográfica

A beleza da panorâmica tão difícil de captar e tornar suas emendas imperceptíveis, ainda mais quando há movimentos na paisagem, tais como o mar, captar 3 instantes e ângulos unindo-os em uma só imagem é uma proeza. Conseguir este ângulo teve um preço. Primeiro o percurso, caminhar toda a extensão dessa praia, pois estávamos alocados há uns 2 quilômetros após a montanha que fica no final da praia, lá na linha do horizonte. Tinha também uma subida íngreme de um morro coberto de gravatás espinhosos que fizeram suas marcas nas pernas enchendo-as de cortes. Para completar o Sol era de meio dia, à pino, de rachar a pele, mas o esforço valeu esta linda vista da Ilha do Mel.

Um fantástico espelho d´água, com tantos reflexos e brilhos que fazem o nosso imaginário trabalhar, este recorte foi possível devido ao imenso tamanho da fotografia 6 Mega, tirada em 2007. Tanta memória em uma máquina digital custava muito, como efeito colateral tinha que descarregar as fotos em outros meios de gravação diversas vezes ao dia.

A imagem completa em tamanho mais corriqueiro já mostra a intensidade e força que transmite um dia encantado pela luz.

Para conseguir este enquadramento tive que encarar a água, coberta de algas e com um visual nada acolhedor. Sai de lá com diversos cortes no pé devido aos mariscos e outros crustáceos que habitavam ali, mas mesmo com sangue o resultado visto agora valeu a pena.
No início do caminho tive de parar ao lado da estrada pois meus olhos travaram em ver poucos segundos desta vista incrível. Os manacás da serra cobertos em flor e um encontro de riachos brilhavam intensamente. Foram 10 fotos e nenhuma permitia captar tanta beleza, então vamos aos riscos, havia uma ponte estreita onde mal passam dois carros ao mesmo tempo, em uma rodovia de limite de 110 km/h, mas o único local que permitia tirar tão bela imagem era justamente no meio desta ponte, e tinha que esperar não passar nenhum veículo pois trepidava toda, tirando o foco, após alguns minutos e muitas buzinadas, finalmente consegui esta a 11a. imagem, para minha grata satisfação.
Erar na inclinação pode trazer gratas surpresas, como nesta imagem, um erro de inclinação leve no horizonte, criou um movimento extra nas águas, o desiquilíbrio traz uma sensação de profundidade. Posso sentir que estou agora naquele local, de tão forte a expressão da fotografia. Como tudo não é perfeito o céu ficou rebuscado, na diminuição da resolução, mas isto também criou um diferencial de imagem. 
O que mais me agrada na vista é o vazio, e a abstração que imprime.

Na volta o mar estava bravio, ondulações de mais de metro, mas o entardecer com suas sombras encantavam o caminho. Esta pirâmide de pedra parece que pairava no negrume do mar. A aventura do momento era não cair do barco, pequeno diante das ondas e não perder a câmera na água, que nos banhava na arrebentação.

Sem medo apenas adrenalina, o olhar preocupado do timoneiro e a tentativa do guia em encontrar um caminho mais calmo, longe das ondulações, causavam em todos ojeriza, e a mim apenas mais emoção.
O que dizer das cores vívidas e texturas do leito deste riacho, são tão intensas que fazem os olhos luzirem frente a tanta beleza. Captado em dia de luz mais amena o câmera conseguiu capturar detalhes como os pequenos líquens que crescem sob as pedras.


Tem dias que as cores tiram folga, nestes descobrimos os sobretons, quantos tons de uma mesma cor podem existir? Como podemos impor limites de cores quando só percebemos uma pequena parte, assim percebemos que sempre há mais que nossa presença, o todo sempre será um vazio no nosso conhecimento.



No campo após a chuva intensa, retorna o Sol, trazendo toda a beleza vicejante da vegetação. A composição não poderia ser mais completa, céu azul, verde mata, amarelo no campo colhido e vermelho terra no caminho.
Enigmático ser resolve mostrar-se, frente a tão grandioso local, de formas extra-terrestre desafia a gravidade e desloca-se em parede vertical como num plano. Encontro de caminhos difíceis de acontecer, entre seres tão desiguais, traz a curiosidade e a dificuldade de captar tão minúsculo ser, em local tão desfavorável, com certa distância para não assustar nenhum dos elementos, modelo e fotógrafo.

Quando o Sol resolve fazer o espetáculo, num dia nublado traz um feixe de luz. Uma pedra fosca torna-se dourada e passar a luminar a paisagem, um momento único, que durou poucos segundos, um estado perfeito da arte, com luz, câmera e ação.

sábado, 12 de outubro de 2013

Tudo Errado na Fotografia

Tem dias que tudo é engraçado, pois tudo dá errado, alguns lamentam-se e sofrem outros divertem-se com os erros e aproveitam para exercitar a felicidade. Não fotografar neste dia seria perder um lado de algo de várias faces e este lado pode ser tão icônico como o melhor que já fez, tão marcante quando o mais belo e ousado trabalho, tão lúdico quanto o mais profundo livro.

Registrei então algumas imagens destes dias, tão incompletas, pois mostram na falta, ter tudo de que realmente precisam.


A primeira imagem não é minha, é foto de fotografia, aí como cópia  de algo já perde o melhor a originalidade, mas quando a vi era tão bela que não pude deixar passar. Para proteger esta imagem antiga do Rio de Janeiro, tirada no período do império, esta foi emoldurada com vidro, trazendo assim vários pontos brilhantes, que coincidiram com o horizonte, mostrando um lugar com mais de um sol.



Já existe hoje o vidro anti-reflexo mas não avisaram o curador ou este optou pelo menor preço, assim a exposição ganhou mais um estranho adereço.


Outra foto, pelos mesmos motivos acima, foi assombrada com discos voadores ou luzes coloridas em uma foto preto e branco. A paisagem com seu reflexo pouco tem destaque, em meio aos brilhantes e coloridos pontos. Tentando corrigir tantos pontos brilhantes perdi também o enquadramento, tombando a imagem. Tanto defeito ou seria efeito especial não poderia ser criado de modo natural, somente quando o imprevisto se junta ao acaso estas coisas acontecem. Ainda foi possível uma pessoa sob as águas, é muita fantasia e pouca razão.


A velocidade de captação da imagem não foi suficientemente rápida, para revelar a beleza das borboletas morpho voando. O tempo já corrigiu o "ph" da palavra que tem som de "f", mas no o latim de onde vem seu nome a linguagem ainda é esta. 

Pude mais uma vez encontrar tão belos animais e encantar meus sentidos com seu vôo, mas quis o tempo que não deixasse um bom registro. Não foi por pouca insistência que perdi o tempo, mas pela lerdeza das máquinas e imperícia em minha locomoção, deveras prejudicada pelas pedras e corredeiras que empunham-se como obstáculos.

O que fazer quando nossa adaptação permite ver uma bela imagem, mas a cegueira da máquina fotográfica só consegue captar um dos planos, perdendo toda a profundidade esperada.

A fotografia perdeu também outros sentidos, tais como:
- A bela sinfonia da água passando por dentre as rochas;
- O calor do Sol que aquecia o corpo enquanto os pés estavam gelados na água;
- A textura com impressionantes desenhos sobre as rochas;
- O aroma de frescor que a mata e o rio compunham;
- O vento que mesmo no inverno traz sua aspereza à pele;

Falta tanto em nossa tecnologia que o mais leve sopro de novidade leva multidões ao consumo, um simples detalhe de forma e cor passa ser um novo modelo. Pouco percebemos que o que levamos muito tempo para fazer e renovar a natureza faz em milissegundos.

Como podemos ver um buraco enquanto caminhamos em busca de belas imagens, na altivez de nosso objetivo o mesmo não pode existir. Quando alguns caem saem rindo mesmo que esfolados, outros procuram sentir pena de si mesmos e entregam-se a desgraça.

Composto de prismas e vidro sua profundidade é mínima, mas a fotografia diz que estamos próximos de um abismo. Ilusões de ótica quando ocorrem, podem trazer belas surpresas ou ledos enganos, tão certo quantos os incertos seres humanos.


OH céus! Ou seria a falta dele? Cobriram o céu e o Sol com uma ponte metálica, magnífica engenhosidade pairando sobre o riacho. 

Conviver é uma palavra cada vez mais arredia, não conhecemos mais nem mesmo nossos vizinhos, mal podemos ter certo os amigos, são outros tempos ou serão pessoas ocupadas demais com a busca por mais e mais, deixando de lado sua existência.




Mas o que pode-se fazer quando o fantástico por do Sol resolve ficar num cantinho das nuvens, e não colorir todo o horizonte?

Não há enquadramento possível em tão reduzida situação, podemos apreciar o efeito, mesmo não sendo valioso e de grande extensão, pois ver o belo em pequenas coisas é tão mais simples e pode melhorar muito o cotidiano.



Utilizar efeitos especiais de imagem pode ser tão desastroso, a ponto de varrer toda a bela da cena, transformar a mais bela figura em pálidas abstrações, abrir mão do melhor que está a sua volta para refletir um desenho rebuscado e sem graça, mas com certeza aceito entre seus iguais.

Mas quem gostaria de ser igual a tal figura? Como pode-se apagar as raízes e cores mais fortes e vibrantes de sua personalidade, a ponto de parecer um borrão em meio a outros tantos. Anular-se desta forma não traz vida, mas certamente pode apressar a morte de seu interior.

Um flash disparado na hora errada, uma avaliação automática do sensor de luz da câmera que avaliou ser a melhor opção, tirando do fotógrafo toda a originalidade, a genialidade, a decisão.

Que adianta captar imagens perdendo toda a cor que a luz deveria trazer, não há contraste que permita apreciar a beleza. Sempre haverá ao seu lado algo mais alto, mais alvo, mais imponente, mas se for autêntico este não será mais belo, mais importante, apenas pode ser algo diferente.

Não sinta-se um pato fora d´água por estar no canto, fora de centro, sem as atenções alheias, pois pode ser o único que esteja certo, correto e só precisa de sua certeza para seguir em frente.


Na pressa em captar a imagem perdi o foco, não permiti a câmera o tempo suficiente para ajustá-lo, corri conforme minhas necessidades, e como resultado consegui este defeito tisnado.

É tão difícil entender o tempo das coisas, para mim parecia uma eternidade aqueles segundos que o foco se ajustava. O melhor deve vir com o tempo, tudo a seu tempo, se não conseguiu com serenidade completar sua imagem, certamente na pressa não terá melhor resolução.

O maravilhoso por do Sol resolveu aparecer em meio a cidade, em meio a desordem das construções, em um meio tão caótico que parece não ser dali.

Tão rara beleza só devia brilhar em belos montes, em paisagens mais amenas, mas não, resolveu abrir uma nesga neste local. Devemos sempre lembrar que todos precisam ver a beleza, se a arte não pode chegar as almas mais simples afim de emocioná-las, o por do Sol pode mostrar que em todo lugar pode surgir o belo.





Só procurei imagens belas, sem apelação, sem conspurcar, mostrar apenas de leve nossos dias mais terríveis, afinal os vi com a finalidade de crescimento e não como objeto de mágoa, cultivo a felicidade, pois outras coisas costumam nascer e crescer sozinhas, não precisam de mais operários para sua expansão.



quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Enquadramento da Fotografia

Como é difícil escolher o melhor local, posição, enquadramento ou ângulo para obter-se uma boa fotografia. A imagem captada pode ter um sentido medíocre ou fabuloso, dependendo apenas do local de onde a lente capta a imagem, as regras sempre a favor da luz, às vezes, não são a melhor opção. O melhor local pensado por vezes não pode ser alcançado, há barreiras, há obstáculos, simplesmente não pode-se estar na posição ideal. 

Como então encontrar um modo de obter o melhor da imagem que projetamos, se os elementos não nos permitem tal ousadia? em paisagem não é possível arrumar as coisas a nosso gosto, é preciso ver o melhor sem mexer em nada. A única coisa que iremos moldar é nossa escolha, tudo mais é fixo, tudo mais está onde deve estar, existe magnificamente daquela forma, e não podemos usar a força de nosso ímpeto para modificar.

Quando insatisfeitos resolvemos mexer na natureza de modo a ficar mais a nosso gosto, sempre ferimos os elementos. Quebrar uns galhos, mover umas pedras, retirar algo que bloqueia a entrada da luz, não traz maior beleza, mas sim uma paisagem agredida, falsa em sua existência e nosso interior a rejeita. O ângulo ideal parece estar acima do chão, se pudéssemos voar um pouquinho, talvez alcançaríamos o quadro desejado, cincados, obtusos, não temos este dom. Nem por um breve momento!

Estar em um local de beleza ímpar, mas como interceptar todas as coisas estando em apenas um lugar? Não é possível, mas podemos incluir mais alguns valores, aumentar nossa satisfação somando mais coisas, agregando mais beleza a nossa presença, complementando a imagem que vemos.

Será? As leis da física nos dizem ao contrário, pois dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, mas estas leis como regras, também não são tão certas, isto só vale para sólidos, os gases desafiam a rigidez da regra, mostrando que sempre há mais a saber.

Mas não fazer nada, não é uma opção, pude incluir belas formas no céu e adicionar mais cores e contrastes, até mesmo na projeção das sombras. As sombras não são mais opacas, e sim translúcidas, e permitem ver mais tons de cores, mais vida.

Claro perdi um pontinho vermelho e as folhas das árvores, mas ganhei tanto, que de certo não me fará falta. Quem precisa disso? Que valor pode ter isso? Não tinha mesmo muita serventia!

Somando coisas não percebemos a matemática da vida, para cada adição sempre haverá uma subtração, não é possível integralizar tudo, só não sabemos se nossas escolhas nos levam para o melhor, para frente, pois não temos muito hábito de olhar para todos os lados, nosso julgamento costuma ser egoísta e voltado sempre para o nosso melhor.


Na natureza é possível compartilhar, é possível contornar o caminho sem remover o que já existe, abrir passagem para a contemplação da beleza com menos agressão. Nada irá ficar parado, a passagem exige uma adaptação dos elementos, as matas vêem as mudanças como novas oportunidades, e crescem sobre os caminhos de pedras, por mais áridos que possam ser.


Não acredito ser possível encontrar uma posição para capturar uma imagem melhor, pois o simples fato de mover à volta da imagem é complicado, é escorregadio, é perigoso, pois pode estragar algo que nos é egrégio.


Prostrado fiquei com o que podia obter, nem mesmo tentei passar pelo caminho e obter outra imagem pelo outro lado, o que tinha já me valia, em segundos tomei a decisão de um click, e seguir em frente. Como são raros os momentos que tomamos decisões de subtrair, sem olhar para trás, sem calcular as perdas, doar sem prejuízo, inverter a matemática e tirar de si. Sentir que esta ganhando mais que o que deixou para trás.

Como é difícil a tal felicidade, nunca estamos contentes com o que conseguimos. Para captar esta imagem desci um penhasco rochoso e como pode ver coberto de limo e folhas, estava tão confiante, que encarei o desafio de pé, logo nos primeiros passos escorreguei e por sorte consegui me equilibrar. Caso tivesse caído era só rocha a frente e uns 10 metros de desnível até chegar ao fim, ou seja, seria um dia daqueles, de muita dor e sofrimento.

Então engoli o orgulho e fui rastejando, sujando as roupas, mas evitando o tombo, parece que todos cedo ou tarde tem de aprender esta lição, não é a posição e sim o caminho que escolhe para alcançar o sucesso. Sucesso? Nem tanto, ainda só tinha o brilho do sol em poucos locais queria mais cores e brilho.

Me arisquei um pouco mais, pois meus olhos viam mais cores que a fotografia não podia captar. Precisava me aproximar mais das rubras pedras afim de obter toda sua coloração.

Continuava rastejando e escorregando já que o local não era para ser tão intensamente devassado, uma mistura de medo e coragem, aventura e temor, acho que deve ser a tal adrenalina.

Vários clicks e consegui cores brilhantes, tão belas quanto as via, mas a bela vegetação que pairava não pode ser captada, tentei levantar, mas no meio do caminho vi que era melhor ficar sem esta foto do que ficar quebrado.

Tirei a foto até onde deu para equilibrar-se, só para lembrar do caminho, não teve toda a beleza das cores que um excelente ajuste podia dar, mas mostrou que em tudo precisa haver limites.

Esta é a segunda vez que fotografo este local, mas as pessoas insistem em depredá-lo com velas e outros objetos escusos, devem ter uma finalidade que minha compreensão não permite alcançar.

Sempre que cercear a vida de alguma forma terá um pesar, mas como construir sobre o que já existe sem eliminar o que havia, o engenho está em construir, alguns pensam em compensar de alguma forma, alguns pensam em concretar tudo e depois recompor alguns poucos lugares, um verdinho aqui outro lá e temos um ambiente ideal. Não podemos crescer sem matar, sem consumir, sem mudar tudo. Podemos é minimizar nosso impacto.


A velocidade do mundo pode impedir nossas decisões mais bem pensadas, como neste caso, a bordo de um trem a velocidade de 40km/h não foi possível ajustar o ângulo ou mesmo tirar uma segunda fotografia de tão belo local e esplêndida luz. Não podia parar a máquina para dizer que aquilo que via era muito importante para mim, mesmo que não importasse tanto aos outros. Nosso julgamento por muitas vezes está mais voltado ao que os outros vão pensarem, como os fatos serão entendidos e menos voltados ao que nosso coração dizer ser o melhor a ser feito.


Perdi a bela luz daquele local maravilhoso e normalmente não há repetição ou outra chance de captar o melhor de cada cena, o melhor que pode ser feito.




O enquadramento que fazemos na fotografia e na vida não tem valor apenas para nosso ego, mas também para nossa estória, para nosso interior. Não se traz nada para a vida além da alma, e nada se leva quando partimos, mesmo assim construímos para deixar nossa marca de passagem, como recompensa, talvez um dia alguém tenha uma breve lembrança de que por aqui estivemos vendo algo que deixamos. Quantos arco-íris cada um vê, em cada imagem, depende mais do nosso conteúdo que de nossa acuidade visual.



Que as lembranças deixadas sejam marcas de nossa beleza interior, pois tudo mais fenece.


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A Luz da Fotografia

Quando falamos em luz parece algo intangível, abstrato, mas para captação de imagens é ela que traduz as formas e cores em imagens fantásticas, sem igual, que trazem a arte para dentro da foto e traduzem sentimentos num instante através de um simples click.

O momento exato que revela-se esplêndida pode durar segundos, dias, anos, até milênios, mas somente uma pessoa em milhões, é capaz de trazer para a imagem algo único. Acredito que temos mais máquinas fotográficas que pessoas no mundo e possivelmente a todo segundo milhares de fotos são tiradas, mas em raras combinações conseguimos encontrar os elementos todos juntos. 

A lente, o fotógrafo, o ângulo, o local e para não esquecer o principal a "LUZ", que traz todos para um instante, um click, uma fantástica combinação luminescente gerando a imagem. Não! esta não é o simples espelho do que esta à frente. Teríamos infinitas combinações alterando apenas um pouco um dos elementos, tais como: o ângulo, o momento, o tipo de lente, o sentimento do fotógrafo em dar naquele exato milésimo um toque, um click.

Nem podemos dizer mais que trata-se do "CLICK", pois hoje já temos ZAPS!, TCHECK! TZIP! e sei lá quantos mais ruídos para informar que algo foi captado, as vezes ainda vai para o processamento, para após um tempo e geralmente sozinho o autor ir conferir o resultado. Muitas vezes fica desapontado, pois o que vira era mais belo que a imagem captada, e aí é que está o raro, em poucas ocasiões o fotógrafo percebe que uma imagem tem mais que a cena vislumbrada, mais que o registro do momento, tem uma presença única que pode ser sentida por ele e apreciada pelos demais.

Como entender imagens sem vê-las? Parece algo atroz, então vamos as belas, para mim as mais belas, imagens que já vi:
O barco tranquilo e colorido, o vento agitando o mar dourado, as nuvens caudalosas formando imagens...

Mas cadê a luz? Quem tampou o Sol? Vou esperar o momento certo, e se passam minutos e mais minutos e nada.

Vou procurar um ângulo melhor, quem sabe consigo melhorar o enquadramento, talvez por lá tenha mais luz.

Isto sim é perfeito? Tem um barco que chegou enquanto esperava a luz, mas tudo bem, depois recorto e tiro ele fora, mas cadê a LUZ! Tentei um giro ao redor e não adiantava, ora perdia a profundidade, ora perdia as montanhas, ora enquadrava a civilização perdendo assim o encanto do barco solitário. Cansei de tanto esperar, mas naquele dia não tinha luz no único lugar que eu queria, sob o barco para mostrar a beleza de suas cores, então fiquei sem aquela foto, ficou, passou, não era o momento de captar toda a beleza que havia ali.

Mais dias passaram-se, e eu na caça de um barco simples, colorido, ancorado numa bela paisagem para uma foto de recordação. Ufa! Finalmente encontrei outra cena, era mesmo belo, tinha um ângulo mais próximo ao barco, tudo prometia. Tirei foto da estrada, subi na ponte próxima, pedi licença e entrei no quintal de uma casa, mas o resultado era sempre luz com inclinação errada. Resolvi radicalizar e entrar com a câmera na água, torcendo para não escorregar e perder mais uma, mas tudo que consegui, foi uma boa ideia do que poderia ter sido uma boa foto, decepcionado resolvi registrar aquela assombrosa luz, que insistia em não permitir uma bela imagem.

Outro dia nova esperança, fui a praia da Solidão, lugar mais deserto e acesso difícil, logo teria uma paisagem de suspirar, pensei eu. O lugar era encantador, por sorte quase deserto, então procurei os barcos e nada, resolvi trocar o tema, procurei uma bela encosta marinha, depois de atravessar várias vezes a longa praia encontrei um belo enquadramento, fazia sol, mas não na face que escolhi fotografar. Logo vamos para o segredo da boa fotografia, espera, espera, volta em algumas horas e então, o céu ficou nebuloso cada vez mais escuro, as nuvens fecharam-se e novamente fiquei sem luz. Para não deixar em pretas nuvens, resolvi registrar.

Ás vezes temos luz e inusitada paisagem, mas falta paciência para esperar o momento certo. Estamos no lugar certo na hora errada, no dia errado, na estação errada, aí a espera briga com a teimosia, ambas sujeitas de difícil trato, o mais lógico é agir como a água e contornar, registrar e alegrar-se com o momento como ele está, sem interferir, apenas deixar-se levar.
O vazio está na mente do observador, quando ele deseja muito, acaba prostrado e com pouco. Quando seu interior é grandioso e cheio de elementos de curiosidade tudo a volta é magnífico, e sua mente consegue enxergar maravilhas em todo canto, até a falta de algo torna-se um prazer, pois vive algo diferente. 

Quando falta o Sol radiante, pode-se obter outra luz, mais cálida e suave, sem a intensidade mas com a beleza sóbria dos sobretons. Um pequeno ponto com cor já serve de referência, nem sempre o belo está em destaque, muitas vezes levamos muitos anos para perceber onde estão as coisas mais preciosas da vida. Com as pessoas ou com os objetos o importante é ser autêntico, único, ter algo a complementar no mundo, se a luz não lhe traz destaque é porque sua beleza não foi feita para ser vista com luz radiante, e sim com suaves sombras.

Não consegui naquela busca a luz sob um barco solitário, mas a jornada foi enriquecedora, trouxe tanto conhecimento para meu interior que pude abrir mão do objetivo sem nenhuma dificuldade. Encontrei onde ancorar o barco e ter luz e paisagem deslumbrante, lugar deserto, tranquilo, encantador. Por sorte preservado e de difícil acesso, mas agora que tenho a paisagem ideal não vejo a necessidade do barco, nem imagino como o mesmo poderia estar em tal lugar, são antônimos. Será que um barco colorido não irá apagar a beleza dos tons areia deste lugar? Um sinal de engenho do homem poderia macular tal imagem? 

Novamente estou construindo outros sonhos, outros objetivos, estou em uma nova busca, mas ainda não sei bem certo o que, afinal como surpreender-se com os fatos quando colocamos grau de importância nos elementos sem observar que sua ausência também pode ser algo tão ou mais importante.