O sentimento que tenho com a natureza me fez pintar as maiores telas, em denúncia as agressões que vem sendo feitas contra o meio ambiente. É revoltante que as pessoas não percebam-se dos males que causam a si próprios, quando agem de maneira a exterminar a frágil ligação entre nossa sobrevivência e os meios naturais.
O primeiro trabalho que criei, tinha o intuito de ser intenso, contar uma estória dramática e com muito movimento, que transforme as pessoas que vissem a cena, reagindo frente a crueldade e força da imagem.
Tem em cena então, "A morte da Harpia", vou detalhar o quadro em 7 partes que contam o drama.
1 - O ninho - este elemento mostrado no canto superior esquerdo, procura mostrar que com a morte do pássaro quebra-se a continuidade da vida, deixado em abandono o filhote, ainda no ovo e sem esperança de vida.
2 - O olho - Centralizei como em uma mira, o olhar preciso geométrico e instigante que o pássaro tem em seu último instante, como se olha-se para o atirador pedindo para que não o abatesse;
3 - As sementes - Mostram a ligação entre animais e vegetais, sendo um o provento do outro, assim como alimentam os pássaros, utilizam-se de seu serviço de transporte para propargar-se por áreas longínquas;
4 - A garra - Postada em sinal de "PARE", pede que não se repitam mais estes fatos, súplica por um pouco mais de compreensão, mostra a força de suas afiadas unhas em contraste com a fatalidade;
5 - As rochas - Todo o fundo mostra-se à partir de um penhasco, situado no topo, onde atrás do abismo fica a mortalha da harpia, as cores em tons de amarelo, marrons e verdes tem a idéia de compor um movimento, neste estéril lugar, onde havia vida;
6 - O sangue - O sangue vermelho, em forma de choro da mãe natureza empoça na areia e escorre pela pedra dramatizando ainda mais a cena, e mostrando que em harmonia nunca deveria estar naquele lugar e sim pulsando dentro de ser vivo;
7 - As penas - Em redemoinho as penas voam pela tela, mostrando que o fato acabou de acontecer e com sua leveza, percorrem toda a tela espalhando o horror da cena e ao mesmo tempo mostrando uma beleza única que padeceu.
Esta primeira tela da série "Crimes Contra a Natureza", tem proporções gigantescas 1,5x2,0 metros e apesar de forte, transmite beleza e movimento, com intuito de atrair o olhar do espectador. Abaixo apresento o quadro sem as marcações para permitir maiores interpretações além das já citadas.
A força plástica do primeiro trabalho foi tão intensa, que resolvi criar uma série de trabalhos com este tema, pois além da satisfação em fazê-lo traz uma elevação do espírito.
Como o primeiro mostra as areias caustigantes, o segundo foi desenvolvido para ser nas profundezas do mar.
Assim como o primeiro o formato foi grande 1x2 metros
1 - A estrutura metálica - Os destroços de nossas embarcações muitas vezes vão depositar-se no fundo do mar, criando cenas curiosas como esta e também modificando a paisagem costumeira, mas nem sempre de forma tão simpática, pois sua deterioração pode causar impactos difíceis de prever;
2 - A pena com o óleo - Esta é uma alusão ao que podemos escrever da exploração petrolífera, pois a pena em movimento, tenta escrever à óleo uma estória sobre sua presença bizarra;
3 - O olho - Como vemos o que ocorre nos mares, tão longe de nossos lares e tão próximo de nosso futuro, este olhar verde, amarelo e azul, procura salientar que devemos ver os efeitos com um olho aquoso, próprio daquele ambiente e não com nossos olhos secos;
4 - O plástico - Junto ao petróleo o poluente mais perigoso que desenvolvemos, parece inofensivo, pois não tem cor, não tem cheiro e nem degrada com facilidade, também não prolifera substâncias tóxicas. Sua presença cada vez mais forte em todos ambientes. Sua forma desregrada de descarte, pode causar danos maiores do que o mais forte poluente, pois pode matar peixes que o comem acreditando ser um alimento, não podendo depois degerir elemento tão danoso. Um só não tem problema! e dessa forma contaminamos todos os ambientes com este silencioso poluente e por vezes vemos sua quantidade gigantesca, causando mortes agora também em nossas vizinhanças.
Há mais elementos na tela a serem vistos, interpretados, analisados, mas se falar em todos não haverá a beleza do mistério, e nem impacto em nossa consciência, pois tudo que nos chega de forma muito fácil, tão fácil será descartado.
O terceiro trabalho da série dá continuidade ao segundo, na temática dos mares, pois o que um dia jogamos no mar, em outro o mar devolve.
O trabalho foi intitulado "Mar Revolto", pois segue na devolução das marés e nos impactos que geramos em seu interior, desta vez a composição teve tamanho mais modesto 0,6x0,9 metros, mas seguiu a mesma paleta de cores fortes e contrastantes.
As texturas foram utilizadas com mais expressão de forma a criar formas escondidas, e uma volumetria mais complexa.
1 - O olho - Pairando sobre o ar como uma gaivota, traz uma visão de seu ambiente nem seco, nem molhado, uma mistura, resultado de sua contaminação;
2 - Os peixes - Agora nadam nas ondas da areia onde putrefazem seus restos esbranquiçados e sem suas vistosas cores;
3 - A garrafa - Uma armadilha das mais antigas, esconde-se na areia envergonhada da cena que compõe, não traz mensagem no seu interior escuro e sombrio, mas traz a tona o lugar onde encontra-se;
Como já exposto fui gradativamente comentando menos os elementos das telas, de forma que a visão da imagem fale mais que as palavras e deixe no interior das pessoas, algo que traga cenas mais belas, menos estranhas e mais harmônicas.
A série de trabalhos continuou e devo trazer mais trabalhos nas próximas postagens, em locais que ainda faltam contar suas estórias e suas mensagens.
Como mensagem final, procure contribuir para colocar o lixo em lugares onde não venham a te atacar, RECICLE-O!